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Eugénio evoca diversas vezes, nos poemas e nas crónicas, a imagem do
escritor/artífice, como revela neste passo, incluído no livro À Sombra da Memória (1993):
(…) poeta como artesão, alguém que, com trabalho e paciência, furta
as palavras à usura do tempo e lhes instaura uma nova ordem, lhes
comunica uma energia capaz de as fazer resistir ao confronto com o
mundo; tal como faz o oleiro com o barro, ou o ferreiro com o ferro;
só que o material do poeta é mais complexo e delicado. Esta
consciência artesanal, e é onde queria chegar, é a minha, e nunca
tive outra. (Andrade, 1993: 44)
Agrada-me esta imagem do poeta, pois valoriza o trabalho, em vez da joyciana
epifania, sujeita aos caprichos das musas — como tantos escritores imberbes preferem, porser menos custoso. Na era da tecnologia, marcada pela produção em série, a figura do artífice
— ou do pedreiro, como foi o avô de Eugénio (Ferreira, 2004: 61-62) — evoca, por contraste,
um labor paciente e carinhoso. Ao mesmo tempo, remete para a técnica, isto é, a arte, o saber
feito de experiência e de aprendizagem, a que nenhum grande poeta é alheio.
Eugénio afirmou, claramente, em «Teoria do Verso» que «de rojo não há poesia»
(Andrade, 2005: 494). Na mesma linha, o breve poema «Conselho» ensina a arte de saber
aguardar, pois os poemas necessitam de tempo para amadurecer:
Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.
(ibid.: 41)
O rigor e transparência da poesia eugeniana testemunham e resultam desse esforço
aturado, ofício de paciência, trabalho de constante reescrita, rumo à perfeição possível do
verso
https://joaodemancelos.files.wordpress.com/2012/05/opetaeumartesao.pdf
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